Fluxo de caixa é um termo muito verbalizado por diretores e gerentes das empresas. No entanto, na grande maioria das vezes, o conceito que define termo é pouco compreendido, mesmo pelos próprios gestores que se dizem financeiros e que concentram suas atividades do dia a dia na tesouraria, ou seja, apenas operando o contas a pagar e receber sem observar qualquer planejamento ou projeção do fluxo de caixa que compatibiliza a entrada das fontes de receitas provenientes das vendas com as despesas.
O Ciclo Operacional que define o tempo entre o pagamento do fornecedor até o recebimento das vendas determina a necessidade ou a exigência de fluxo de caixa. Quando a venda para o cliente é parcelada em 30/60/90 dias, a projeção do fluxo de caixa para 18 meses se faz obrigatória para evitar frustrações no caixa que custam caro na forma de juros.
A negligência sobre este tema mata a empresa pois produz um efeito chamado insolvência que na prática quanto mais a empresa cresce, maior o perigo de quebrar – conforme a empresa cresce, a necessidade de capital de giro cresce também.
É responsabilidade do gestor financeiro remontar periodicamente a estratégia e a estrutura de capital para financiar a operação.
Exigência de fluxo de caixa
Uma vez mapeado o ciclo operacional e devido o tamanho do déficit, por exemplo se a empresa paga o fornecedor à vista, leva 30 dias para fabricar o produto e vende para seus clientes parcelado em 30/60 dias, a empresa precisa subsidiar a operação em 90 dias até receber do cliente o valor referente as vendas.
Se a empresa dobrar as vendas, nas mesmas condições descritas acima, vai gastar mais ainda com fornecedores antes de receber o valor dessas vendas e portanto, vai necessitar de ainda mais capital de giro para subsidiar os mesmos 90 dias.
O orçamento anual da empresa que projeta o crescimento das receitas e, ao mesmo tempo, lista os custos variáveis e despesas fixas ao longo do ano orienta o cálculo da exigência de capital de giro e determina o montante necessário para financiar a operação.
Estratégia de financiamento da operação
Existem duas formas para financiar a operação da empresa:
- Própria. Quando o empreendedor decide utilizar seu próprio capital para subsidiar a exigência defluxo de caixa. Nesse caso, o fato do capital estar imediatamente disponível não significa que não deverá ser remunerado. O sócio deve determinar uma taxa de remuneração do capital a ser restituída com juros e correção.
- Terceiros. Lembre-se que o banco está sempre disposto a conceder crédito e emprestar o dinheiro. O banco é seu parceiro! No entanto, exige garantias de pagamento. As garantias variam conforme o critério estabelecido pela área de crédito do banco e conforme o cenário econômico, que, quando positivo, são exigidas menos garantias. Por exemplo, o banco pode exigir 30% de garantias para emprestar 100% do capital necessário para operar sua empresa. No cenário negativo, normalmente as garantias são de 100%.
O histórico da empresa no banco garante a continuidade da parceria. Na prática, quando sua empresa cresce, o banco normalmente apoia aumentando a linha de crédito e emprestando mais dinheiro para subsidiar investimentos e o capita de giro. Apoia de várias maneiras:
- Empréstimos de curto prazo que normalmente são garantidos pela carteira de duplicatas. O banco pode adiantar o valor correspondente às duplicatas.
- FINIMP é uma operação que o banco paga todos os custos da importação incluindo as despesas de desembaraço aduaneiro. A empresa paga pelo adiantamento em 180 ou até 360 dias, ou seja, a empresa tem tempo de trazer o produto importado, beneficiá-lo, vender e receber antes de quitar sua dívida com o FINIMP que então é renovada.
- ACC ou ACE que são antecipações de recursos para empresas exportadoras. O banco pode oferecer o recurso com base no contrato de exportação futura ou então adiantar o recurso logo após o embarque.
A quebra da parceria com o banco por inadimplência leva o banco a mudar de atitude que passa a recolher o dinheiro emprestado para sua empresa – run off – também corta as linhas de crédito deixando a empresa sem capital de giro – “sem oxigênio“.
A negociação com banco motivada pela falta de pagamento dos juros e/ou do principal sempre é um momento de stress. O não pagamento gera apontamentos em órgãos de proteção de crédito como SERASA tornando pública a situação que gera um efeito imediato impedindo a empresa de conseguir crédito em todas as instituições financeiras. Mesmo que consiga crédito em fontes alternativas, os juros cobrados são altos, na mesma proporção dos riscos de liquidez que sua empresa oferece.
Não confunda e nem misture as fontes de financiamento para capital de giro e para investimentos em ativos. Os investimentos em ativos, assim como as linhas de crédito correspondentes, devem ser considerados na fase de orçamento.
O controle do fluxo de caixa deve ser diário. O mapa da tesouraria com os pagamentos e recebimentos deve contemplar 90 dias, sendo que os 30 dias que compreendem o mês devem ser absolutamente precisos.
Nenhuma despesa que não esteja contemplada em orçamento, ou que não tenha reciprocidade de receita, não deve ser gerada.
Lembre-se que uma vez gerada, a despesa deverá ser paga. Não aceite nenhum outro critério oferecido por seu líder financeiro.